segunda-feira, 14 de setembro de 2009

2° Fase Modernista

Jorge de Lima


Essa pavana

Essa pavana é para uma defunta
infanta, bem-amada, ungida e santa,
e que foi encerrada num profundo
sepulcro recoberto pelos ramos

de salgueiros silvestres para nunca
ser retirada desse leito estranho
em que repousa ouvindo essa pavana
recomeçada sempre sem descanso,

sem consolo, através dos desenganos,
dos reveses e obstáculos da vida,
das ventanias que se insurgem contra

a chama inapagada, a eterna chama
que anima esta defunta infanta ungida
e bem-amada e para sempre santa.


Cecília Meireles


Fio


No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...

— Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?

Vinicius de Moraes


O rio

Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Semana da Arte Moderna

     A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, de 11 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal.
     Durante os sete dias de exposição, foram expostos quadros e apresentadas poesias, músicas e palestras sobre a modernidade.
     A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda, para o modernismo. O evento marcou época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos, como a poesia através da declamação, que antes era só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia cantores sem acompanhamento de orquestras sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos. O adjetivo "novo" passou a ser marcado em todas estas manifestações que propunha algo no mínimo curioso e de interesse.
    Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos entre outros.


Vanguardas européias

    A nova intelectualidade brasileira dos anos 10-20 viu-se em um momento de necessidade de abandono dos antigos ideais estéticos do século XIX ainda em moda no país. Havia algumas notícias sobre as experiências estéticas que ocorriam na Europa no momento, mas ainda não se tinha certeza do que estava acontecendo e quais seriam os rumos a se tomar.
     O principal foco de descontentamento com a ordem estética estabelecida se dava no campo da literatura (e da poesia, em especial). Exemplares do Futurismo italiano chegavam ao país e começavam a influenciar alguns escritores, como Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida.
     A jovem pintora Anita Malfatti voltava da Europa trazendo a experiência das novas vanguardas, e em 1917 realiza a que foi chamada de primeira exposição modernista brasileira, com influências do cubismo, expressionismo e futurismo. A exposição causa escândalo e é alvo de duras críticas de Monteiro Lobato, o que foi o estopim para que a Semana de Arte Moderna tivesse o sucesso que, com o tempo, ganhou.

Lima Barreto


Afonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 - Rio de Janeiro, 1 de Novembro de 1922), melhor conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e um dos mais importantes escritores libertários[1] brasileiros.

Era filho de João Henriques de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de Amália Augusta (filha de escrava agregada da família Pereira Carvalho). O seu pai foi tipógrafo. Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico, que imprimia o famoso periódico "A Semana Ilustrada". A sua mãe foi educada com esmero, sendo professora da 1º à 4º séries. Ela morreu cedo e João Henriques trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal. João Henriques era monarquista, ligado ao Visconde de Ouro Preto, padrinho do futuro escritor. Talvez as lembranças saudosistas do fim do período imperial no Brasil, bem como suas remotas lembranças da Abolição da Escravatura na infância tenham vindo a exercer influência sobre a visão crítica de Lima Barreto sobre o regime republicano.


Augusto dos Anjos


Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade.

Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.

Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.

Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.

Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.


Monterio Lobato


José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, 18 de abril de 1882 — São Paulo, 4 de julho[1] de 1948) foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi o "precursor" da literatura infantil brasileira e ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo, bem como divertido, de sua obra de livros infantis, o que seria aproximadamente metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de inúmeros e deliciosos contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, prefácios, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro e um único romance, O Presidente Negro, que não alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças.

Euclides da Cunha


     Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em 1866 na então província do Rio de Janeiro. A sua família, de origem luso-baiana, aí se instalara, em meados do século XIX, atraída pela miragem da riqueza fácil que o café parecia oferecer a todo o Vale do Paraíba , laboriosa e mediana seria a vida de Euclides: militar, engenheiro, topógrafo, jornalista, escritor e, por fim, por um brevíssimo espaço de tempo, professor. 
      Na adolescência escreveu alguns poemas de um romantismo liberal cujo ideário se cifrava no culto do Progresso e da Liberdade. E Euclides fez-se muito cedo abolicionista e republicano ardente. O pendor para os estudos matemáticos levou-o a eleger como curso superior a Engenharia, entrando primeiro na Escola Politécnica, que mal freqüentou e, logo depois, na Escola Militar da Praia Vermelha. Neste centro difusor da mentalidade positivista educa-se para um tipo de pensamento que atava no mesmo feixe de valores, a Ciência e o republicanismo. 
      Ao lado da influência de Comte, d o evolucionismo de Darwin e deSpencer o dispôs a aceitar, com excessiva confiança, as "leis" sobre os caracteres morais das raças que tanto acabariam pesando na elaboração de Os Sertões. Euclides passou a escrever no jornal A Província de São Paulo (depois de 1889, O Estado de S. Paulo) artigos de cunho ideológico. 
     Proclamada a República, Euclides pôde reintegrar-se às fileiras do Exército, cursando então Artilharia e Engenharia, na Escola Superior de Guerra. Em agosto de 1890, casa-se com Anna da Cunha. Nos anos seguintes dedicou-se aos estudos brasileiros de que foi, até a morte, um cultor assíduo. Em 1892, escreve alguns artigos para O Estado de S. Paulo, defendendo as medidas políticas de Floriano. 
      A essa altura, Euclides entrega-se aos estudos brasileiros, passando da geologia à botânica, da toponímia à etnologia: o acervo de conhecimentos que então carreou formaria a base científica de Os Sertões, obra redigida alguns anos mais tarde. Um fato veio alterar a rotina dessa vida de estudioso e funcionário exemplar. Os jornais de 7 de março de 1897 noticiaram a morte do Coronel Moreira César, líder da ala florianista do Exército. O episódio foi logo interpretado como primeira fase de uma luta armada em prol da restauração do regime monárquico. Euclides, republicano de primeira hora, aceitou, no princípio, a interpretação dos jornais. O Estado de S. Paulo convida-o a acompanhar, como correspondente, os sucessos de Canudos. O contato direto com as condições físicas e morais do sertanejo acabou por desmentir o pressuposto de que Canudos era um foco monarquista. Desfeito o equívoco, o escritor pôs-se a examinar com novos olhos aquela sociedade, cuja interpretação ele proporia em Os Sertões em termos de mestiçagem e de influência do meio. 
     O escritor continuou a trabalhar como engenheiro e a escrever sobre nossos problemas, compondo, em 1904, vários artigos, reunidos em Contrastes e Confrontos e mais tarde em o Relatório sobre o Alto Purus e em Peru versus Bolívia. 
     Em um esforço pessoal no qual se empenhara por motivos de honra, é morto numa troca de tiros com o cadete do Exército Dilermando de Assis, que se tornara amante de sua esposa, aos 15 de agosto de 1909. Contava, ao morrer, 43 anos de idade.